Vencer o conservadorismo e construir a alternativa política



 
A reeleição da Presidenta Dilma Rousseff e do projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho continuarão sem repercussão positiva para o povo potiguar, se a política local continuar protagonizada por lideranças viciadas, empenhadas apenas em acomodar os interesses particulares e de grupos no programa do governo federal.


O Brasil inaugurou um novo ciclo político em 2002, no qual forças sociais novas, de conteúdo popular, assumiram protagonismo político no governo central do país. O novo presidente eleito - um nordestino de origem operária - trouxe como aliados os partidos do trabalho, inclusive os comunistas.

O crescimento econômico estagnado há duas décadas foi retomado; políticas públicas foram renovadas, com destaque para aquelas voltadas ao fortalecimento da educação, ao combate à miséria e, recentemente, à ampliação dos serviços de saúde. Passados onze anos o Brasil mudou.


No cenário mundial o país reposicionou-se e reconquistou a soberania. Figura com desenvoltura nos fóruns mundiais, protagoniza em conjunto com outras nações a luta pela paz e pela integração do continente latino americano; tem voz ativa na OMC, presidida por um brasileiro; integra o universo dos países em desenvolvimento que mais cresceram na última década.

A economia nacional fortaleceu-se, o que possibilitou enfrentar a crise econômica mundial sem inviabilizar o desenvolvimento nacional. A maioria das empresas nacionais foi recuperada, com destaque para a Petrobras, uma das maiores empresas de petróleo do mundo. A descoberta e a produção de petróleo na camada Pré-sal são exemplos do crescimento do país no novo cenário.

Mudou o padrão nacional de mobilidade social: de 1960 a 1980 o crescimento da renda per capta foi acompanhado pela expansão da desigualdade; de 1981 a 2003 houve estagnação desse crescimento e manutenção da desigualdade; de 2004 aos dias atuais o crescimento da renda per capta tem sido combinado com a redução das desigualdades. A pobreza caiu mais de 55% no período².

Na atualidade, embora a economia registre tendência de desaceleração, o país teve o menor índice de desemprego da história nacional: 4,6% em novembro de 2013, segundo série evolutiva divulgada pelo IBGE. Tal índice é compatível com a situação de pleno emprego.

O desenvolvimento estrutural tem, necessariamente, repercussão sobre a política, numa relação dialética³. Mas essa repercussão é ainda lenta, condicionada que está pela atuação e pela presença das forças conservadoras na institucionalidade brasileira.

As forças conservadoras a que se faz referência tentaram, como bloco, inviabilizar o governo eleito em 2002. Não conseguindo, adotaram como estratégia a atuação em duas frentes: uma parte se aliou ao planalto para alterar o conteúdo programático do governo, via parlamento; e a outra parte, apoiada na mídia conservadora e no poder judiciário, atua para desmoralizar e impedir a consolidação das mudanças, tendência atual na América Latina.

Permanece intacta a composição do poder legislativo, autêntico representante da classe dominante, no qual o trabalho representa menos de 30%. O poder judiciário permanece como poder absoluto, sobre o qual a sociedade não tem nenhum controle. A composição das cortes superiores é determinada pela influência da classe dominante e do corporativismo.

Prevalece na sociedade a imagem distorcida que separa o cidadão do exercício político, alienando-o do poder delegado ao representante, de quem é legítimo fiscal. A classe dominante surfa nessa onda e a mídia conservadora atua para consolidar essa distorção.

Por isso várias lideranças conservadoras conseguem renovar os mandatos, quando não mudam de legenda e se recompõem com os partidos aliados do governo federal, de forma a evitar a ampliação das mudanças e o avanço do programa nacional de desenvolvimento.

No Rio Grande do Norte, por exemplo, as forças conservadoras do Estado, organizadas nas legendas do DEM, PSDB e PMDB – as mesmas que deram suporte político à ditadura militar, a Collor e a FHC –, atuaram para inviabilizar o primeiro mandato do governo Lula, principalmente na ação dos senadores Garibaldi Alves e José Agripino.

Os referidos partidos e seus agregados foram decisivos para eleger Micarla de Souza e Rosalba Ciarline, expressão do retrocesso político local e do descaso da classe dominante com o desenvolvimento e com a gestão do Estado. Por suas ações fortaleceram a oposição conservadora nacional e possibilitaram a instalação do caos administrativo e político na cidade do Natal e no Estado potiguar.

Predominam no cenário político estadual o caos e o atraso, o que requer ação consequente das forças políticas novas. O acúmulo político gestado nos últimos onze anos é suficiente para a construção de novo projeto político, capaz de possibilitar e gerir o desenvolvimento estadual.

A reeleição da Presidenta Dilma Rousseff e do projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho continuarão sem repercussão positiva para o povo potiguar, se a política local continuar protagonizada por lideranças viciadas, empenhadas apenas em acomodar os interesses particulares e de grupos no programa do governo federal.

²O dado é do estudo "A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda", realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA.

³Karl Marx, no livro A ideologia alemã, assim explica a relação dialética: “o homem ao interferir na natureza modifica a realidade da qual é integrante e assim modifica a si mesmo”. Esse movimento, essa relação é permanente, contínua.

 
                                                  Fafá Viana é dirigente sindical do SINDIPETRO/RN, socióloga, advogada e militante do Partido Comunista do Brasil.



Referência Bibliográfica
CASTRO, Jorge Abrahão de e VAZ, Fábio Monteiro. Situação social brasileira: monitoramento das condições de vida 1: Ipea, 2011. Disponível emhttp://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_situacaosocial.pdf. Acesso em 06/01/2014.

PORTAL BRASIL. Desemprego do país atinge a menor marca da série histórica do IBGE. Disponível emhttp://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/12/desemprego-no-pais-atinge-a-menor-marca-da-serie-historica-do-ibge. Acesso em 12/01/2014.

PORTAL BRASIL. Renda dos brasileiros mais pobres cresceu 90% em dez anos. Disponível emhttp://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2012/10/renda-dos-brasileiros-mais-pobres-cresceu-90-em-10-anos. Acesso em 12/01/2014
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